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Justiça holandesa julga atividades da mineradora Hydro que podem ter afetado 11 mil pessoas no Pará

Corte de Roterdã ouviu, nesta quarta-feira, 12, as duas partes envolvidas - moradores afetados e a defesa da Hydro. Hydro Alunorte em Barcarena Pará Tarso Sa...

Justiça holandesa julga atividades da mineradora Hydro que podem ter afetado 11 mil pessoas no Pará
Justiça holandesa julga atividades da mineradora Hydro que podem ter afetado 11 mil pessoas no Pará (Foto: Reprodução)

Corte de Roterdã ouviu, nesta quarta-feira, 12, as duas partes envolvidas - moradores afetados e a defesa da Hydro. Hydro Alunorte em Barcarena Pará Tarso Sarraf / O Liberal A Justiça Holandesa realizou uma audiência nesta quarta-feira (12) de uma ação apontando impactos ambientais pela Norsk Hydro, desde 2002, nas cidades de Abaetetuba e Barcarena, no Pará. Durante a audiência, os juízes responsáveis pelo caso ouviram as duas partes envolvidas - moradores afetados e a defesa da Hydro. Depois disso, a Corte de Roterdã ainda vai avaliar os argumentos das partes, as provas e os pareceres dos especialistas. A sentença será proferida em 24 de setembro de 2025. A ação é da Cainquiama (Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia) representando cerca de onze mil pessoas que seriam afetadas pela poluição resultantes da atividade mineradora na região. No Pará, a Hydro extrai bauxita na Mineração Paragominas, no sudeste do estado, e atua com refinaria de bauxita para produzir alumínio em Barcarena. Um mineroduto com extensão de 246 km passa por 7 municípios ligando as duas atividades. O processo foi acatado na Holanda porque a empresa possui atividades subsidiárias no país. Na ação, nove indivíduos, além da Cainquiama, buscam indenização por danos moral e material causados às famílias que foram e continuam expostas a resíduos tóxicos do processamento de alumínio - principal atividade da empresa no território paraense. O que dizem os autores da ação A presidente da Associação Cainquiama, Maria do Socorro, disse à época da ação que a comunidade está sem tratamento médico há anos e que o rio está muito contaminado. "Queremos que a justiça de Roterdã olhe pelo meu povo e nos ajude a salvar vidas”, ela afirma. As comunidades tradicionais na região industrial onde a Hydro atua são representadas pelo escritório internacional Pogust Goodhead, que atua em parceria com os escritórios Ismael Moraes Advocacia e o holandês Lemstra van der Korst. A advogada Caroline Narvaez Leite, diretora Jurídica do escritório internacional Pogust Goodhead, que atua na ação junto aos moradores de Barcarena e Abaetetuba, explicou que como o grupo Norsk Hydro controla majoritariamente a refinaria Alunorte, em Barcarena, deve ser responsabilizado pelas atividades diretas e pelos impactos ambientais e sociais causados às comunidades locais. "Os autores buscam indenização por danos morais e materiais causados às comunidades. Embora o processo tenha como foco principal a reparação financeira pelos danos sofridos, acreditamos que uma eventual condenação do Grupo Norsk Hydro pode incentivar a adoção de medidas para cessar a atividade poluidora na região e mitigar os danos ambientais causados ao longo das últimas décadas", ela aponta. Justiça holandesa julga atividades da mineradora Hydro no Pará O que diz a empresa O grupo norueguês Hydro disse que "nega de forma veemente as alegações trazidas pelos autores com base em argumentos jurídicos e técnicos expostos na defesa apresentada perante a Corte de Rotterdam". Segundo a Hydro, relatórios técnicos baseados na análise extensiva de dados ambientais e de saúde demonstram que as alegações dos autores acerca de danos ao meio ambiente e às comunidades são infundadas" e que "relatórios oficiais datados de 2018 apresentados à Corte Holandesa confirmam que não houve transbordo de resíduo de bauxita ou dano causado pela Alunorte". Entenda principais episódios envolvendo a Hydro nos últimos anos: 2002: Derramamento de Coque no Rio Pará Cerca de 100 quilos de coque, um pó preto derivado do petróleo também conhecido como carvão mineral, foram derramados no rio Pará. A contaminação ocorreu devido a uma falha no sistema de transporte do material de um navio para o interior do complexo industrial Albras/Alunorte. O vazamento resultou em uma extensa mancha negra nas águas do rio, cobrindo aproximadamente dois quilômetros. Este incidente destacou problemas no manejo e transporte de substâncias potencialmente poluentes dentro do complexo industrial. 2003: Vazamentos de Lama Vermelha em Barcarena Em abril de 2003 ocorreu um vazamento significativo de lama vermelha das bacias de rejeitos da Alunorte, resultando na contaminação do Rio Murucupi. A lama vermelha, assim denominada devido à presença de resíduos de sílicas, ferro e óxidos de titânio provenientes da produção de alumínio, tingiu o rio de vermelho e provocou a morte de peixes. O incidente levou à assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e à instauração de inquéritos policiais para investigar as causas e responsabilidades pelo vazamento. O mesmo vazamento aconteceu também no mês seguinte daquele ano, ou seja, em maio de 2003. 2003: Rompimento de Tanque de Soda Cáustica na Alunorte Um tanque contendo soda cáustica na Alunorte se rompeu, resultando na poluição do Rio Pará com essa substância altamente corrosiva. O vazamento provocou uma nova contaminação das águas do rio, ressaltando a recorrência de problemas ambientais associados às operações do complexo industrial. 2004: Chuva de Fuligem em Vila do Conde A localidade de Vila do Conde experimentou uma chuva de fuligem, com praias, rios, residências e estabelecimentos comerciais cobertos por um material particulado de coloração preta. A camada de fuligem atingiu até cinco centímetros de espessura. O evento causou reações alérgicas e complicações respiratórias em muitas pessoas. Não foi possível determinar a empresa responsável pela liberação da fuligem no ambiente. 2005: Novo Rompimento de Tanque de Soda Cáustica na Alunorte A Alunorte foi novamente responsável por um vazamento de soda cáustica, desta vez no Rio Pará, devido ao rompimento de um de seus tanques. O incidente reforçou as preocupações ambientais relacionadas às operações do complexo industrial e seu impacto sobre os recursos hídricos locais. 2009: Vazamentos de Lama Vermelha no Rio Murucupi e Impacto nas Comunidades Novo vazamento de lama vermelha proveniente das bacias de rejeito da Alunorte no Rio Murucupi, causando novamente a morte de peixes, afetando a biodiversidade local e impactando várias comunidades ao redor. 2014: Relato de Vazamento de Material Cáustico pela Hydro A Hydro reportou em seu relatório anual a ocorrência de um vazamento de material cáustico em sua fábrica. 2018: Vazamento Significativo de Lama Vermelha da Alunorte Em 16 e 17 de fevereiro de 2018, um vazamento substancial de lama vermelha do depósito de rejeitos da Alunorte resultou na poluição de diversos rios e mananciais, expondo os moradores locais a riscos ambientais e de saúde. A contaminação evidenciou a recorrência de problemas sérios no manejo de resíduos industriais, aumentando a preocupação com a segurança ambiental e a saúde pública nas áreas afetadas. LEIA TAMBÉM: Justiça condena grupo norueguês Hydro a pagar R$ 50 milhões a comunidades afetadas por gases poluentes no Pará VÍDEOS: veja todas as notícias do Pará Leia as últimas notícias do estado no g1 Pará